quinta-feira, 20 de julho de 2017

Tão perto e tão longe

É estranho que, tendo eu sido criado em Lisboa (para onde me mudei aos 11 anos) e lhe conheça quase todos os recantos, nos últimos 15 anos a cidade me tenha ficado tão distante, apesar de estar a menos de 3 quilómetros da minha atual residência.
Com os maiores centros comerciais e hipermercados praticamente dentro de casa, aos poucos fomos perdendo o hábito de passear por Lisboa. Por isso não admira que a tenha encontrado tão mudada.
Tínhamos destinado esta semana para ir à praia, mas só fomos na segunda-feira. O tempo piorou e já ninguém tem paciência de levantar o cu da cama às 6:30 da madrugada para fugir aos engarrafamentos na Ponte 25 do A e regressar ao meio dia pelo mesmo motivo. Assim, temos feito umas caminhadas de manhã e na quarta-feira de tarde fomos para Lisboa.
Começámos pela zona de Belém e hoje descemos do metro na estação "Baixa-Chiado" e calcorreámos o Bairo Alto, a Bica, comemos uma sandes de presunto e um copo de vinho no mercado da Ribeira (que está um espanto), refrescámo-nos com a brisa do Tejo entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, subimos ao Rossio e bebemos uma ginjinha e acabámos o dia a jantar na Rua dos Correeiros.
Lisboa está diferente da Lisboa onde os homens que nunca foram meninos engoliam uma sopa à pressa e gastavam a hora de almoço a "reinar" aos polícias e ladrões, à apanhada e à barra do lenço, em correrias loucas entre os carros estacionados à volta da estátua, na Praça D. Pedro IV (conhecida por Rossio). Outras vezes passávamos as duas horas a andar "na pendura" no elétrico, ou íamos até ao Castelo espreitar os parzinhos de namorados, até vir um legionário correr connosco (a  brigada terrestre da Legião Portuguesa, tinha quartel no Castelo de S. Jorge).
Os turistas apareciam mais em abril, trazidos pela campanha "Abril em Portugal" que o regime promovia no estrangeiro e era nessa altura que os homens se amontoavam em frente à Pastelaria Suiça para ver as pernas e uma ou outra cueca de uma inglesa descuidada de minissaia pouco mais larga do que o cinto.
Tirando isso, Lisboa era uma aldeia cinzenta, as nossas vidas eram cinzentas e até as fardas dos polícias eram cinzentas.
As minhas memórias daquele tempo, tirando o cor de rosa das cuecas das inglesas (lol), são um filme de longa metragem a preto e branco.
Hoje Lisboa está assim. Há tantas turistas a mostrar as cuecas, que já ninguém repara, mas a cidade tem vida.






























Amanhã talvez haja mais... 

3 comentários:

  1. As cidades estão a crescer. A mudar. E a ganhar outra vida.
    Adorei as fotografias, estão incríveis!

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  2. Que fotografias lindas! Miradouro de Santa Catarina, ainda à dias estive ai :)

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  3. Tenho saudades da capital... adoro Lisboa!

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