segunda-feira, 4 de junho de 2018

Até as pedras arderam

Eu não sou daquele tipo de pessoas que corre atrás das desgraças e pára a estorvar o trânsito para ver um acidente. Um pouco por isso e outro tanto porque me queria resguardar, nunca pensei sair de casa para ir "fazer orçamentos" nas zonas ardidas. Esperei pelo inverno, mas no inverno não choveu e para ver desgraças, bastava-me ir até ao Alentejo e ver manadas e rebanhos a pastar onde não havia pasto. Esperei o tempo que julguei suficiente para que, pelo menos, a erva cobrisse as cinzas, mas parece que esperei em vão. É verdade que, aqui e ali, já vai havendo alguma erva. No entanto, nem toda a erva do mundo seria suficiente para mitigar toda a devastação deixada pela passagem do inferno.
Ardeu tudo!
Desde que, no sábado, deixámos a A13 em direção a Pedrógão Grande, o verde parecia ter sido banido da paleta de cores. Entre Pedrógão e Pampilhosa da Serra, entre Pampilhosa e Fajão, entre Fajão e Coja e Arganil e Góis e no regresso por Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, até à Barragem da Bouçã, salvou-se a Serra da Lousã. E fico-me por aqui, pois na zona do xisto ainda todos se lembram bem que, em dois ou três dias, o fogo "que começou ali em cima", tinha devastado a encosta sul da Serra da Estrela, passado por Oliveira do Hospital, chegando num instante a Nelas e a Penacova.
É uma zona que conheço relativamente bem. Já passei férias em Coja, em São Gião e na Ponte das Três Entradas. Conheço a rota do xisto da frente para trás e de trás para a frente. Conheço o verde que se estendia dos vales profundos ao cimo das Serras do Açor, da Gardunha e da Estrela e do qual restam esqueletos de pinheiros calcinados e pedras que caem encosta abaixo, pela falta do mato que as segurava. Nem a Mata da Margaraça escapou. Nalguns sítios até os castanheiros e carvalhos arderam. E eu, que andei quase um ano a adiar para não assistir a este vexame, estou em choque e ainda não consegui processar, nem ideias, nem fotografias. A dimensão do desastre não coube nas minhas expectativas. Desde a montanha mais alta ao vale mais profundo, olhamos em volta e ardeu tudo.
Dizem os locais: até as pedras arderam.







P.S. Hoje ficam apenas estas seis fotos que julgo serem bem ilustrativas da paisagem deprimente.

3 comentários:

  1. Andei pela Gardunha e pela Estrela no fim de Abril a pedalar e sim, uma imensidão queimada. Desolador...
    Tal qual por aqui, pelo Pinhal do Rei. Mas por aqui o verde já está por todo o lado, os fetos e umas flores cor de rosa furam por todo o lado...

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  2. É desolador observar estas paisagens e relembrar todo aquela tragédia!

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