terça-feira, 31 de março de 2020

Tantas vezes o cântaro vai à fonte, que um dia vem de lá com a asa partida

Amanhã lá vou eu, a caminho do Pingo Doce. É pena que a necessidade de comer não possa ser interrompida por decreto...
Não estou em pânico com o/a (?) COVID-19 (acho que COVID-19 é o nome da doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2 e, sendo assim, é feminino, mas isso agora não interessa nada). Estou só apreensivo e, confesso, tenho algum receio, sobretudo pelos motivos que já aqui disse. Tenho pavor a falta de ar e, pelo que entendo do que por aí se escreve, o pessoal morre mesmo é com falta de ar e esse é um caminho longo e difícil para chegar ao jardim das tabuletas. Falta de ar e fogo (afogado é o mesmo que falta de ar), não me agrada nada...
"Prontus", mas o que me está a preocupar, é que quanto mais perto estamos do "pico", mais casos existem por aí à solta e mais provável é sair de casa "pobrezinho mas lavadinho" e voltar com aquele "carrapato" agarrado às mãos ou à roupa. E isto faz-me viver num dilema que, bem vistas as coisas, é um "trilema".
A Maria está a trabalhar em casa e podia ir ao supermercado por mim, mas depois voltava infetada e pegava-me o vírus.
Eu sou quem dos dois corre mais risco, mas se for ao supermercado e voltar infetado, é o mesmo que ir ela e pegar-me a mim.
Havia a hipótese de irmos os dois e nenhum ficava com remorsos de ter pegado a doença ao outro, mas se encontrarmos a "bófia", é provável que me façam dar meia volta e deixar "a velha" em casa.
Por isso restava a terceira perna do "trilema", que era a filha vir cá fazer-nos as compras e deixá-las na escada. Mas a filha, mesmo que não se estivesse a cagar para nós, mora longe, coitada. 20 quilómetros de carro é muito e se, ao fim de três semanas sem cá vir ela ainda não teve a iniciativa de se oferecer, não hei de ser eu que lhe vou dar ideias.
Assim, amanhã lá vou eu, sobre o fio da navalha e se ficar infetado, que se foda.
Como disse o Papa Francisco: quando chegamos a esta idade, já temos tão pouco a perder que a morte não é coisa que nos tire o sono. Só a falta de ar é que é uma merda...

quinta-feira, 26 de março de 2020

Especialistas

Costuma-se dizer que até das coisas más podemos retirar coisas boas. Assim, nesta altura em que o mundo atravessa um dos períodos mais negros, talvez dos últimos 100 anos, uma das poucas coisas boas que podemos agradecer ao coronavírus, é o súbito aparecimento de especialistas em tudo e mais alguma coisa. Depois das guerras do Iraque nos terem mostrado os vastos conhecimentos em mísseis e táticas de guerra dos especialistas Nuno Rogeiro e José Rodrigues dos Santos (mais conhecido pelo "orelhas"), a pandemia de hoje tem feito despontar imensos especialistas em dicas na arte de bem viver (e sobreviver) à solidão das multidões que se aglomeram em quarentenas familiares. Desde as receitas culinárias, às diversas formas de coçar a micose das partes pudibundas, passando pelas relações entre casais e de pais com filhos, damos um pontapé numa pedra e saltam especialistas como ratos.
Algumas das especialidades que mais me deixam de boca aberta, são aquelas destinadas às pessoas que há pouco mais de uma semana se queixavam de falta de tempo para os filhos e que agora cedem às dicas de um qualquer idiota que, provavelmente, ainda nem sequer tem filhos, para aprenderem a lidar com a miudagem. São os chamados "treinadores de bancada".
Mas há outra que me deixa com vontade de mandar bardamerda os especialistas e mais quem lhes dá ouvidos. São as dicas sobre como lavar as mãos. Ao que esta gente chegou... adultos que, pasme-se, precisam que um mariconero qualquer venha à televisão ou às redes sociais, ensinar-lhes a lavar as mãos.
Não sei se é o mundo que está virado do avesso, ou se sou eu, velho marreta, que estou naquela fase da vida em que só nos lembramos das coisas passadas há 50 anos e implicamos com tudo, mas a mim foi a minha mãe que me ensinou, em pequenino, como e quando devemos lavar as mãos. Naquele tempo vivíamos sem água canalizada, mas ai de mim que fosse para a mesa sem lavar os "chispes" com sabão azul e branco, na bacia que desempenhava as funções de lavatório.
Lavar as mãos é um procedimento básico que deveria ser incutido, logo de pequenino, nos estropícios que andam pelos centros comerciais a fazer birras e a atirarem-se para o chão, coisa que envergonharia qualquer pai, no tempo em que os pais tinham vergonha dos atos impróprio dos filhos.
Puta que pariu.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Estou mais triste que um cão capado

Fiz 68 anos no dia em que entrou em vigor o estado de emergência (19 de março). Até então, não estava alarmado com o "cofidis". A minha Maria até achava estranho que, sendo eu sempre tão stressado, me mantivesse tão calmo. Mas à medida que a pandemia foi alastrando, fui-me apercebendo que sou um doente de alto risco. Não tanto pela idade, porque até me sinto um jovem de 18 anos, capaz de fazer caminhadas diárias de 10 Km. Mas o meu histórico no que diz respeito aos pulmões, não é, de todo, tranquilizador e basta-me apanhar uma constipação e fico com o pulmão direito que, na prática, é pouco mais de meio pulmão, cheio de líquido. Os derrames da pleura já por mais de uma vez, quase me levaram de volta à sala de operações. Por isso estou convencido que se este cabrão me apanhar, as hipóteses a meu favor são reduzidas.
Estou a imaginar a vossa perplexidade com a minha atitude agora e a de há umas semanas atrás. Mas não há contradição com o que disse na altura e o que digo agora. Há certas alturas em que continuo a desejar adormecer e não voltar a acordar. O meu receio não é a morte: é o modo como se morre, e morrer com falta de ar, é algo assustador. Passei por isso naquela fase a seguir à cirurgia, em que apanhei uma infeção hospitalar e não gostava de voltar a passar pelo mesmo. Morrer por morrer, preferia atirar-me da ponte abaixo e acabar tudo com uma lufada de ar fresco nas trombas.
Bom, mas falando de coisas alegres, a minha Maria está a trabalhar em casa e logo na sexta-feira, ficou sem computador (o dela). Numa altura destas, é uma merda e com as ideias dela, de ir no sábado para a Worten (depois de eu ter passado a noite a configurar o meu híbrido para ela jogar no Facebook), é óbvio que uma ideia parva, depois de uma noitada, só podia acabar em discussão.
Ontem resolvemos comprar um portátil, online, na Globaldata e se os tipos forem sérios, amanhã já tem computador. Dela, porque para trabalhar trouxe o da empresa.
Este mês de março começou mal e não sei como vai acabar. No fim de fevereiro deram-me uma porrada por trás e fiquei três semanas sem carro. No acidente rebentaram-me um pneu que o seguro pagou, mas meti os outros três (que já iam com  69000Km) e com a revisão, levei um rombo na carteira. Agora para o computador novo, esvaziaram-me os bolsos, pegaram-me pelos pés e sacudiram-me até cair o último cêntimo. A sorte é que como não posso ir às compras, não preciso de dinheiro. Estou a pagar tudo com cartão de crédito, para pagar no início de maio. Se até lá for infetado e morrer, o BPI que vá receber ao TOTA. eheheh
Pronto, se não voltar a escrever aqui, encontramo-nos noutra vida. Quero reencarnar num cão.
Cuidem-se e não vão passear para a marginal.

quinta-feira, 12 de março de 2020

No próximo dia 19, estão todos COVID-ados para o meu aniversário

Nestes últimos dias tenho pensado muito na questão da falta de papel higiénico nos supermercados, mas ainda não cheguei a uma conclusão.
Primeiro, se é por receio de virem a faltar os alimentos, não tenho conhecimento de nenhuma receita culinária confecionada com papel higiénico.
Por outro lado, se há uma forte probabilidade de faltar a comida durante a pandemia, não faz sentido açambarcar papel higiénico, pois quem não come, também não caga e quem não caga, não precisa limpar o cu.
Alguém sabe explicar isto?