Há tempos fui almoçar numa cidade (da qual não vou dizer o nome), a um restaurante (do qual também não vou dizer o nome), onde a proprietária, uma senhora já de uma certa idade (eu diria a rondar os 70 anos), tinha qualquer coisa meio estranha, que até me custa dizer o quê. Foi no verão e a senhora andava pelo restaurante a servir e no paleio com os clientes (um restaurante modesto e de cariz familiar, onde se come bom peixe) com um traje algo démodé, que lhe dava um ar de puta decadente dos anos 60 do século passado. Uma saia (ou vestido?) com pendericalhos de renda, bem acima do joelho, deixavam ver umas perninhas de alicate mal equilibradas nuns saltos altos que fazia impressão como é que a senhora não caía deles abaixo. Tudo pouco condicente com a idade avançada da "madame".
Hoje voltámos lá com a filha. Era cedo e no passeio que demos pela cidade, tive oportunidade de descrever à filha o aspeto da senhora, sem esconder a sensação que me tinha ficado no verão, de que estava a almoçar num bordel falido, servido por uma meretriz reformada, ou reciclada numa nova profissão.
Quando entrámos tivemos que suster o riso, apesar de hoje a "madame" envergar uma roupagem menos arejada o que, curiosamente, lhe dava um ar bem mais "respeitável". E sublinho "respeitável", pois em nenhum momento a senhora se mostrou menos merecedora do respeito dos clientes, com quem mantém um diálogo afetuoso, sempre que a azáfama do serviço lho permite.
Quando entrámos tivemos que suster o riso, apesar de hoje a "madame" envergar uma roupagem menos arejada o que, curiosamente, lhe dava um ar bem mais "respeitável". E sublinho "respeitável", pois em nenhum momento a senhora se mostrou menos merecedora do respeito dos clientes, com quem mantém um diálogo afetuoso, sempre que a azáfama do serviço lho permite.
Comemos muito bem e na hora de pedir a conta, a senhora abeirou-se de nós com o terminal do Multibanco e um bloco onde foi somando as parcelas da conta, ato pouco habitual na era onde até as antiquadas calculadoras de bolso deram lugar às caixas registadoras "computorizadas". E quando eu fiz a observação - "a senhora ainda sabe fazer contas de lápis"? Ela respondeu:
A matemática foi sempre a minha paixão. Sou licenciada em matemática e dei aulas durante muitos anos. Houve uma época em que cheguei a acumular a profissão de professora com a restauração, mas do que gostei sempre, foi de dar aulas de matemática.