quinta-feira, 26 de março de 2020

Especialistas

Costuma-se dizer que até das coisas más podemos retirar coisas boas. Assim, nesta altura em que o mundo atravessa um dos períodos mais negros, talvez dos últimos 100 anos, uma das poucas coisas boas que podemos agradecer ao coronavírus, é o súbito aparecimento de especialistas em tudo e mais alguma coisa. Depois das guerras do Iraque nos terem mostrado os vastos conhecimentos em mísseis e táticas de guerra dos especialistas Nuno Rogeiro e José Rodrigues dos Santos (mais conhecido pelo "orelhas"), a pandemia de hoje tem feito despontar imensos especialistas em dicas na arte de bem viver (e sobreviver) à solidão das multidões que se aglomeram em quarentenas familiares. Desde as receitas culinárias, às diversas formas de coçar a micose das partes pudibundas, passando pelas relações entre casais e de pais com filhos, damos um pontapé numa pedra e saltam especialistas como ratos.
Algumas das especialidades que mais me deixam de boca aberta, são aquelas destinadas às pessoas que há pouco mais de uma semana se queixavam de falta de tempo para os filhos e que agora cedem às dicas de um qualquer idiota que, provavelmente, ainda nem sequer tem filhos, para aprenderem a lidar com a miudagem. São os chamados "treinadores de bancada".
Mas há outra que me deixa com vontade de mandar bardamerda os especialistas e mais quem lhes dá ouvidos. São as dicas sobre como lavar as mãos. Ao que esta gente chegou... adultos que, pasme-se, precisam que um mariconero qualquer venha à televisão ou às redes sociais, ensinar-lhes a lavar as mãos.
Não sei se é o mundo que está virado do avesso, ou se sou eu, velho marreta, que estou naquela fase da vida em que só nos lembramos das coisas passadas há 50 anos e implicamos com tudo, mas a mim foi a minha mãe que me ensinou, em pequenino, como e quando devemos lavar as mãos. Naquele tempo vivíamos sem água canalizada, mas ai de mim que fosse para a mesa sem lavar os "chispes" com sabão azul e branco, na bacia que desempenhava as funções de lavatório.
Lavar as mãos é um procedimento básico que deveria ser incutido, logo de pequenino, nos estropícios que andam pelos centros comerciais a fazer birras e a atirarem-se para o chão, coisa que envergonharia qualquer pai, no tempo em que os pais tinham vergonha dos atos impróprio dos filhos.
Puta que pariu.

2 comentários:

  1. «Lavar as mãos é um procedimento básico que deveria ser incutido». É um procedimento básico, de facto, mas não sei se está assim tão incutido nas pessoas, por acaso :/

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  2. Concordo, agora fiquem com os filhos ahahahahahahah
    Espero que tudo corra bem por aí.

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