quarta-feira, 19 de junho de 2019

Orgulho besta

Bom, parece que estamos na era dos orgulhos e eu não me consigo encontrar neste mundo onde, certamente, existem pessoas com orgulho de se peidarem no metro, em hora de ponta.
Eu não me considero pior nem melhor português do que a maioria dos portugueses, mas não tenho orgulho em ser português. Gosto muito de Portugal, gosto do clima, da segurança, dos lugares de estacionamento garantidos em cima dos passeios e, entre tantas coisas, gosto da comidinha portuguesa. Mas mesmo assim não encontro motivo para ter orgulho em ser português, porque ser de algum sítio é uma coisa tão natural, que não faz sentido ter orgulho.
Imaginem que, no dia em que nasci, a minha mãe decidia ir a Badajoz comprar caramelos e, ao saltar a fronteira (porque no meu tempo havia fronteiras), abria demais as pernas e eu ia cair do lado de lá. Então eu, que seria exatamente a mesma pessoa, teria de ter orgulho em ser espanhol?
Não faz sentido, "prontus". Aliás, o orgulho é um sentimento que não faz sentido, muito menos em relação à nossa nacionalidade. O local em que nascemos é circunstancial. Eu adorava ter nascido alto, loiro e num país rico do norte da Europa. Mas nasci aqui, baixo e atarracado, sou português de circunstância e sem orgulho nem vergonha de o ser.

Outro dos orgulhos que me fazem confusão, é o orgulho dos emigrolas.
Quer dizer, um gajo tem de deixar a "pátria amada" em busca do sustento que a dita cuja não lhe proporciona e depois chega o "meu querido mês de agosto" e ele faz dois dias a conduzir sem dormir, num carro adornado com uma bandeira a cobrir a tampa da bagageira e duas a embrulhar os encostos de cabeça dos bancos da frente e ao ser interpelado pelos emplastros das televisões que se vão plantar em Vilar Formoso a fazer reportagem, a primeira merda que lhe sai, é que tem muito orgulho em ser português.
Vá-se lá entender esta gente...

Mas para mim, o orgulho mais incompreensível, é o orgulho gay. Porque raio é que alguém tem que ter orgulho da sua tendência sexual? Não é natural cada um ser aquilo para que nasceu? Cada um não é para o que nasce?
Por este andar, um dia destes ainda alguém se lembra de instituir o orgulho hetero.

Agora apareceu aquela moda da vaquinha deste post. Sou mãe, com muito orgulho.
Opá, eu cá se fosse mãe, ia ter motivos de sobra para ter orgulho. Não deve haver muito gajo no mundo, que se possa gabar de ser mãe. Mas as gajas? Uma gaja ser mãe, é quase tão natural como tratar da casa, passar a ferro e fazer a comida (lol) e ainda não encontrei nenhuma a postar no Facebook:
Acabei de passar um cesto de roupa, com muito orgulho.

Pronto, eu sou um cidadão de um mundo do qual Portugal faz parte. Não tenho motivos especiais para não gostar de ser português. Mas se fosse australiano, não me importava. A minha terra e o meu país é onde me receberem bem e eu me sinta bem. Não me parece que isso seja motivo de orgulho. Aliás, se eu tivesse superpoderes, abolia o orgulho.

P.S. É muito tarde, passei o dia na cama, doente e vir aqui a estas horas, foi um abuso. Quando estiver melhor, ponho as visitas em dia.

8 comentários:

  1. A questão é que já querem avançar com o orgulho hetero...
    Eu entendo onde queres chegar, mas acredito que nos devemos orgulhar de tudo o que nos caracteriza (desde que não implique negativamente terceiros), mesmo que nos seja de berço

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  2. Eu orgulho-me e muito de ser Portuguesa, porque não há país melhor, em minha opinião, claro. Hoje vão lá para fora trabalhar para quê? para fazerem lá limpezas, trabalharem na construção civil e passarem fome. Aqui temos tudo, clima, alimentação, hospitais quase à borla, não temos violência, sei lá tanta coisa. Essa do orgulho Gay também não entendo :(
    As melhoras.

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  3. As melhoras, Zé.
    Devemos orgulhar-nos daquilo que nos caracteriza enquanto portugueses e lutar contra o que nos envergonha e prejudica.

    Não entendi essa frase machista das gajas lavarem a loiça... 😬😬

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  4. E já agora, as melhoras. Não pode faltar ao S. João! :))

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  5. Não sei se é orgulho a que se refere. Para mim é IDENTIDADE. RAIZES.
    Não me é nada complicado entender o "orgulho" nacional, menos ainda quando se é emigrante. Trata-se tão somente da sensação de "pai e mãe". O país onde nasceste ou foste criado, é o teu "progenitor". O teu porto seguro. Ainda que te maltrate ou não consigas vingar nele. Quando mudas de país, sentes mais falta de algumas coisas boas do teu. E é essa saudade que faz o emigrante sentir-se feliz por voltar a pisar solo português. Principalmente se ele teve de abandonar o país por questões financeiras, não por desejar fazê-lo. E quanto aos carros com bandeiras nacionais, se ainda existirem, abençoados sejam. Porque isso não passa de uma grande festa! Não há nada de errado - pelo contrário, até faz falta, festejar em família a partida para um destino. Ainda mais se o motivo for férias. Férias no país do qual sentes saudades da comida, da luz do céu, dos cheiros e aromas, das pedras da calçada, das atitudes tugas.

    Orgulho de preferência sexual e género também tenho dificuldade em entender. Porque por vezes acho que nestes casos confunde-se "orgulho" por exibicionismo e vaidade. Mas ficou aberta a possibilidades para compreender.

    Abraço

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