domingo, 27 de agosto de 2017

O tempo não cura tudo...

Dizem que o tempo tudo cura, mas não é verdade. O tempo apenas nos distancia das coisas que, de algum modo, nos fizeram sofrer e, como a erosão nas rochas, apenas deixa ver as formas ténues daquilo que já foram sulcos profundos na alma.
O tempo não cura, mas encarrega-se de nos encher o caminho com novos e mais pesados pedregulhos que nos ocupam tanto a existência, que ficamos sem tempo para pensar nos grãos de areia que outrora nos emperraram a engrenagem.
O tempo dá-nos a distância necessária para termos uma visão global da vida, sem ficarmos obcecados com pormenores mal resolvidos, com a vantagem de percebermos que nada do que façamos agora, irá alterar o passado.
O tempo permite-nos relativizar os problemas, de tal modo que a perda de um amor ou de um amigo que, num determinado momento, nos parecia ser a perda de uma vida, hoje não ser mais do que a recordação de más opções que tomámos e, no fim, chegamos à conclusão que nem perdemos assim tanto.
As pessoas não se perdem: se partiram de livre vontade e as deixámos partir, sem luta, então não eram assim tão importantes. Insinuaram-se na nossa vida e marcaram-nos, mas não se souberam agarrar com força suficiente para resistirem à voragem. Porque a vida é um turbilhão que nos arrasta e só nos seguem os que estão seguros pelo coração.

8 comentários:

  1. «Porque a vida é um turbilhão que nos arrasta e só nos seguem os que estão seguros pelo coração», não podia estar mais de acordo!

    r: É verdade :)

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  2. Ai Jota, Jota... comoveste-me, pah.

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  3. Por vezes nem os que estão seguros pelo coração nos seguem Jota, mas o tempo, ah, o tempo não cura tudo mas ajuda, vais ver. Temos de fazer um esforço para resolver as coisas dentro de nós senão nem o tempo ajuda :)

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  4. r: Olha que às vezes também sinto que já não tenho tanta pedalada para estas coisas :o

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  5. Às vezes, as pessoas que conhecemos deixam de existir. Pura e simplesmente, desaparecem: a carcaça continua lá, mas a personalidade torna-se irreconhecível aos nossos olhos. Mesmo a quem foi capaz de jurar a pés juntos que já a conhecia de cor. E não há nada a fazer... se calhar, nem nada a lamentar. Depois do choque inicial, daquela dor que parece que vai durar para sempre, quando somos presenteados com a lucidez que só o tempo é capaz de nos trazer, percebemos que talvez tenha sido o melhor para nós.
    Tirando aquela saudade que surge amiúde, vive-se bem com a perda - e não adianta continuar a bater em portas onde já não vive que conhecemos desde sempre. Quando deixamos de nos identificar uns com os outros, o melhor é mesmo cada um seguir o seu caminho. Ainda que doa, porque não adianta fingir que não dói. Mas passa, tudo passa ;)

    Vá, se começasse a escrever só sobre moda e maquilhagem também deixavas de ler o meu blog (ainda que ande mais parado do que o mário soares). Ou ias comprar um batom vermelho para poderes comentar? ahah
    Anima-te :)

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    1. Não adianta continuar a bater em portas onde nunca viveu ninguém. Porque o "embrulho" pode ser bonito, mas se estiver vazio, sem sinais de ter sido violado, então é porque esteve sempre vazio. Fica o vazio e a sensação de termos sido ludibriados.

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  6. Concordo! O tempo faz-nos abrandar o coração mas não o cura...

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