terça-feira, 24 de abril de 2018

Fiquem a saber que eu (ainda) cheiro bem

Antigamente os namoros começavam, quase todos, nos bailaricos e o meu não fugiu à regra. Conheci "a minha Maria" nos bailaricos da coletividade aqui da zona, para onde vim morar em 1973. Ela já cá morava desde os 8 anos. Quando nos conhecemos eu estava na tropa e ela tinha 13 anos. Entretanto fui para Angola e começámo-nos a escrever como amigos. Mas eu escrevia um aerograma (*) por mês aos amigos e a ela escrevia uma carta por semana.
Quando regressei ela tinha 15 anos e eu tinha 23. Não começámos logo a namorar porque ela achava que ainda era muito nova e queria estudar, mas eu era uma "melga" e arranjava sempre maneira de "aparecer por acaso" onde ela estava. E nos bailaricos estava sempre um passo à frente dos concorrentes que, em boa verdade, não eram muitos porque o pessoal sabia do meu interesse e deixavam-me o caminho livre. Nos fins de semana em que a coletividade não organizava bailes, juntávamos o nosso grupo de amigos e namoradas, pedíamos a sala e o som, levávamos os discos de casa e fazíamos as nossas matinés dançantes.
Andámos assim desde que eu regressei de Angola, no verão de 75, até dezembro. No dia 2 de dezembro (três semanas antes de ela fazer 16 anos) juntámos um grupo de pessoal fixe e fomos ver um filme. Nenhum de nós se lembra que filme fomos ver. Só me lembro que fomos como amigos e voltámos como namorados. Lembro-me que demos o primeiro beijo nesse dia, no autocarro, quando vínhamos a passar pelo coreto de Carnide.
Fomos sempre muito organizados e das primeiras regras que estabelecemos, foi que só casávamos daí a três anos, quando ela acabasse o curso comercial.
Foi fácil cumprir o "acordo", porque eu não tinha dinheiro para casar. Naqueles três anos ela trabalhava de dia e estudava de noite e eu "esfolei-me" a fazer turnos de 12 horas, para comprar a mobília.
Um dia ela confessou-me que eu tinha sido um chato do caraças, que nunca lhe dava oportunidade de dançar com mais ninguém, mas gostava de dançar comigo porque eu cheirava sempre bem. Trabalhava na "ferrugem" mas cheirava sempre a lavado. Yeah, cumpria os requisitos do bom cidadão, na ótica do Salazar. Pobrezinho mas lavadinho. lol

Hoje quando fui fazer o RX, a senhora mandou-me despir da cintura para cima, mas se usasse camisola interior não precisava de tirar.
- Eu não uso camisola interior, à "cota", mas visto uma t-shirt das mais velhas, para proteger a camisola da transpiração.
- Não importa se é velha. Importa é que está limpa e cheira bem. Cheira muito bem.
- Como não havia de cheirar bem se "a minha Maria" tem um negócio clandestino de perfumes da YODEYMA e ainda hoje me trouxe duas amostras?...  amostras de 15 Ml. ahahah

Esta "gaja" vende tudo. Este ano virou-se para as roupas e acessórios de bebé. Faz ninhos, almofadas de amamentar, vestidos e "cuecas" de bebé (acho que são cuecas eheh).
Vou tentar sacar umas fotos do Instagram sem ela saber e depois meto num post. Tem que ser em segredo, porque se ela me descobre o blog, vai andar sempre aqui a meter o nariz e eu detesto que ela me ande a espreitar por cima do ombro.


Só consegui sacar estas, mas ela faz mais coisas. Às vezes faz bijutaria e bolsas em feltro para telemóveis, com "bonecos". Só não vai é à farmácia comprar-me medicamentos, nem que eu esteja a morrer. E não sabe arrumar o carro. lol

(*) Aerograma era uma cena que a tropa inventou para os soldados no ultramar escreverem de borla à família.

3 comentários:

  1. Que história maravilhosa! Gosto tanto de ler sobre como tudo começou. Apesar de, claramente, teres sido um chato, valeu a pena :)
    Parece que a conquistaste pelo perfume ahahah
    A tua Maria tem imenso jeito!

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  2. :)) Gostei desta homenagem à tua Maria. Tão querido que tu és!! Pena ela não vir cá - iria gostar muito. :)

    Agora vejo que se tu és jeitoso ela não te fica atrás, não senhor...:-)))))

    Eureka! Já vi que o motivo de andares, há anos, feito blogger saltimbanco é porque, e quando, a tua Maria te descobre o blog...ehehe

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  3. E olha que ela tem bastante jeito. Daqui a uns anos quando estiver à espera de uma cria tenho que lhe encomendar umas coisas está visto ;)

    Agora fora de brincadeiras, gostei muito de ler este pedaço do vosso passado. É a prova de que antigamente o amor era assunto sério e que é para a vida. Hoje em dia as pessoas parece que gostam de coleccionar relações!

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