sexta-feira, 26 de abril de 2019

É mentira

Há dias, enquanto decidia qual casaco havia de vestir, reparei que aquela parte do roupeiro que me é destinada (um roupeiro comprado propositadamente para guardar os casacos perto da saída), está a abarrotar de casacos e blusões. Foi aí que percebi que nem sempre o povo tem razão.
Diz o povo que Deus dá o frio conforme a roupa. É mentira. Quando vim para Lisboa, tinha apenas dois pares de calças (as do fato do exame da 4ª classe e outras de caqui), duas camisas (a do exame e outra de manga curta e estávamos em fevereiro), o casaco do fato do exame e uma camisola de malha larga, tipo rede (a da foto), que era vermelha até à morte do meu pai e depois foi tingida de preto. Tinha um par de sapatos tão velhos, que o meu primeiro patrão mandou uma empregada ir comigo à Sapataria Oliveira (que calça Lisboa inteira) e ofereceu-me uns sapatos novos.
Naquele tempo de "moço de recados", eu passava os dias na rua, ao frio e à chuva. Havia dias em que tinha tanto frio que, ainda hoje, quando penso no frio que me trespassava a alma, sinto um arrepio na espinha, como se tivesse uma estalagmite de gelo enfiada pelo cu acima.
Afinal onde é que estava Deus, de quem se diz que dá o frio conforme a roupa? 

2 comentários:

  1. Acho que não podemos levar tudo à letra... especialmente provérbios celestes!!

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  2. Estou com a Titica :p
    Sim senhora, estás todo janota na foto!

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