sábado, 25 de abril de 2020

Estou-me a c@g@r

Fez um ano que ninguém me podia aturar. "Alembram-se" de me ver aqui a deitar fumo pelos ouvidos, porque a médica no hospital tinha encontrado um "pintelho" na TAC e mandou-me fazer um exame e depois meteu baixa (só vim a saber em agosto) e deu-me um "banho de gaveta" de três meses? Pois na altura fiquei a andar pelos cantos da casa, como já não andava desde os tempos em que fazia contas aos meses que o Doutor Google me dava de vida (entre 2005 e 2008). Passei o verão a ruminar e nem as férias me arrancaram àquele sentimento de morto-vivo que terminou em fins de agosto, quando me disseram o resultado do exame.

Este ano estou numa situação igual à de muitos portugueses. Tinha consulta, RX e análises para meados de maio, no Pulido Valente, mas ouço dizer que as consultas vão ser remarcadas e do hospital não me disseram nada.
Um dia antes do estado de emergência, fui ao médico para pedir os medicamentos habituais. Medicamentos que aviei já pelo postigo da farmácia.
Atualmente estou a meio de acabar os medicamentos e estou sem médico (vou ao médico pela ADSE e há cinco anos que deixei a médica de família à porta do consultório, a falar para o boneco). Liguei para a clínica e só estão a fazer enfermagem.
Liguei para a farmácia e vendem-me os medicamentos pela receita antiga, mas tenho que os pagar por inteiro e depois pedir a receita ao médico. Qual médico? O meu, da ADSE, não está a dar consultas. A médica de família deve-me ter um pó que se lá apareço receita-me arsénico.
Mas o que eu queria, mesmo, era que acabasse a porra da pandemia.
Quero ir passear. Temos quase "500 contos" no cartão refeição da Maria e os restaurantes estão fechados.
Tenho o depósito cheio de gasolina, mas o carro só vai às compras uma vez por semana.
Preciso de comprar "cenas" para fazer biscates, mas o Leroy Merlin, se estiver aberto, deve ter filas de trolhas à porta.
É verdade que, quando não chove, posso ir passear, porque moro no campo. Ontem andei mais de 6 Km e hoje já andámos mais de 3 Km, mas não é a mesma coisa.
Acham que estou preocupado com uma consulta de rotina na oncologia?
Acham que me ralo se tiver que pagar os medicamentos por inteiro?
O que me está a moer o juízo é ver o tempo a passar e, nem o pai morre, nem a gente almoça.
Catano, isto é ver o resto da vida a escoar-se por entre os dedos, como areia fina. Eu já não tenho tempo para desperdiçar com merdas. Tinha planeado ir uns dias para fora, no início de junho e tenho casa emprestada para passar o tempo que quiser, no Algarve. Já se passaram dois aniversários e mais o meu e não fomos fazer as tradicionais almoçaradas em família. Daqui a nada estão aí as vagas de calor e voltamos a não poder sair à rua sem apanhar uma insolação e o cabrão do vírus não se vai embora.
Quero lá saber de consultas e medicamentos. Eu quero é ir "pastar a vaca".

4 comentários:

  1. Já sonho com o dia em que nos permitam sair livremente. Mas será que nos sentiremos tão livres assim?

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  2. Tens de ter outro médico de familia.
    Até eu, apesar de continuar a trabalhar, é tudo tão diferente.

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  3. Parece a conversa da minha mãe hoje " isto de estar em casa é para quem ainda têm muito tempo para viver " disse ela ... Fiquei sem troco de palavras... São o grupo de risco... Risco de perder a sanidade mental... Farta desta porra também!!!

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    1. Um grupo de risco que vai ficar fechado em casa à espera que os netos voltem da escola infetados e os mandem desta para melhor.
      É verdade, nós já não temos muito tempo para viver e pouco temos a perder. Ficar fechado à espera da morte, é o pior que uma pessoa pode esperar depois de uma vida de trabalho e privações. Ao menos que sigam a receita do Tramp e deem-nos uma injeção de lixívia.

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