sábado, 29 de junho de 2019

Dantes é que era bom

Como já tenho dado a entender aqui, o meu desprezo pelos políticos é muito abrangente, atravessando transversalmente todas as cores políticas. Basicamente, olho para um político e vejo logo um filho de puta corrupto.
No entanto, se há coisa que mexe com o meu habitual mau feitio, são aquelas pessoas que, desde há uns tempos a esta parte, parece terem perdido a memória e descobriram que só agora é que Portugal é o cu da Europa, onde tudo o que não é mau, é porque foi promovido a muito mau e então, desataram a fazer greves e manifestações, como se dantes isto fosse um mar de rosas.
Não digo que sejam todas as pessoas, pois ainda há quem consiga ser coerente com o seu estatuto de atrasado mental, como aquela funcionária pública que, pouco tempo depois da Geringonça ter tomado posse, veio do Minho numa manif. a Lisboa reclamar os seus direitos, porque no governo anterior nem sequer valia a pena manifestar-se, pois já sabia que não levava nada.

Eu já conheço Portugal há uma data de anos e, confesso, nunca tive dele melhor nem pior impressão. Numas coisas é o melhor, noutras coisas é uma merda, com ligeiras variações circunstanciais.
Iniciei o serviço militar com a ditadura e "passei à peluda" com a revolução. Nunca me considerei um militar de abril, porque tal não fazia sentido. Nasci em março, assentei praça em fevereiro, embarquei para Angola em novembro, regressei em junho e passei à peluda em julho. Portanto, a não ser na lógica daqueles palermas que resolveram mudar o nome das ruas e das pontes, só porque sim, para mim não fazia sentido autoproclamar-me militar de abril. Estive lá, mas só por acaso.
Com esta travessia da ditadura para a democracia, é fácil perceber que, se não vi de tudo, já vi muita coisa e não embarco nesta moda de vir para a rua reclamar que agora está tudo mal.

A saúde está muito mal, mas em 2005 fui operado a um tumor num pulmão e na sala de operações apanhei uma bactéria resistente. Estive entre a vida a o WC da pneumologia a "snifar" mijo e merda, pois nos primeiros cinco dias, fiquei deitado numa maca no corredor, prova de que não é de hoje a falta de camas. Mas salvaram-me a vida e isso, para mim, é o mais importante de recordar.

Em 2013 um primeiro ministro qualquer, decidiu retirar as isenções dadas a pessoas com incapacidade comprovada em junta médica. De repente aquele anormal do Passos Coelho achou que os pulmões das pessoas são feitos do mesmo tecido do rabo das lagartixas que, passado algum tempo de ser cortado, volta a crescer e vai daí, obrigou-me a voltar à junta médica para comprovar que a parte amputada do pulmão, não tinha crescido. Estive um ano sem isenções, mas alguns partidos políticos só agora se lembraram de levantar a polémica com as taxas moderadoras.

Na sexta-feira, um daqueles funcionários da saúde que, provavelmente, passa o resto do ano sentado atrás duma secretária e se está a cagar para o tempo de seca que dá aos doentes, lembrou-se que não é aumentado há 15 anos. É caso para perguntar:
- Então onde é que vocelência tem andado este tempo todo? Só deu por falta do dinheiro agora?

A classe médica está revoltada. Há falta de médicos no SNS. Uma falta preocupante, pois assim um médico tem menos tempo para ficar no bar, à conversa com outros médicos de serviço, enquanto os tinhosos dos doentes morrem na sala de espera. Uma calamidade.
Na época em que era primeiro-ministro aquele asno que agora é Secretário Geral da ONU, uma vez estive 16 horas com a minha "Maria", na urgência de Stª Maria e quando fomos atendidos, o Sô Dótor avisou-nos que era má ideia ir às urgências às segundas-feiras. Se calhar tínhamos tido mais sorte se fossemos diretamente à morgue.

Os transportes é o que se vê. Ainda havemos de ver a CP contratar uns quantos funcionários dos caminhos de ferro japoneses. Daqueles que empurram os passageiros, como se fossem porcos a caminho do matadouro, para poderem fechar as portas dos comboios.
Os passes sociais? Bem... aí há pouco a dizer, mas como não há bela sem senão, toca de colocar o foco na qualidade do serviço. Antes de baixar o preço dos passes, o Costa devia ter reposto todos os comboios e barcos que sucessivos governos, ao longo de 40 anos, foram deixando a apodrecer.

É verdade, este país da hospitalidade, da boa comida e do tempo maravilhoso, em setores fundamentais está uma merda. Não é de agora. Foi sempre uma merda.
É certo que o mundo está em evolução e todos desejamos que amanhã seja um pouco melhor do que hoje. No entanto, por entre defeitos e virtudes, ninguém pode afirmar, com seriedade, que o Portugal de hoje é, substancialmente, pior do que o Portugal de ontem. E para aqueles ainda mais saudosistas e retrógrados, que acham que no tempo do Salazar é que era bom, sigam a dica de um gajo ainda mais idiota do que eu (Indignado com Síndrome de Tourette):
Deem um tiro nos cornos e vão para o pé dele.

3 comentários:

  1. A questão é mesmo essa, é que há vários problemas que não são de agora. Mas, de repente, assumiram toda uma exposição megalómana.
    Portugal tem coisas maravilhosas e, para mim, continua a ser um país do qual me orgulho. Ainda assim, reconheço as falhas e sei que de nada vale vir para a rua reclamar se, depois, na hora h não se faz, efetivamente, algo

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  2. Até às eleições vai ser isto e mais umas quantas greves. depois vai acalmar.

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  3. Há sempre coisas boas e más, e isso é inevitável

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