quarta-feira, 3 de junho de 2020

Carneirada não, obrigado

Quem me conhece em carne e osso e mesmo algumas pessoas que só me conhecem da "blogolândia" e das redes sociais, sabe que sou um pouco "bicho do mato". Não me sinto à vontade em grandes ajuntamentos, não partilho a minha vida pessoal com muita gente (mesmo com as mais próximas), gosto de viver na minha bolha e não adiro facilmente a correntes de espécie nenhuma. Só me filiei uma vez numa coletividade do bairro, nos tempos em que não havia muitas diversões para além dos bailaricos. Fartei-me depressa, depois de constatar que os membros da direção da coletividade, que se queixava de falta de tempo e dinheiro para organizar eventos culturais, ficava até de madrugada na sede, a jogar à batota. Deixei de pagar cotas e terminou ali a minha única e curta experiência coletiva.
Quando comecei a andar aqui pela blogolândia, tive alguns convites para participar noutros blogs e cheguei mesmo a ser convidado para um evento onde bloggers de todo o país e arredores se reuniram num pavilhão. Era gente a mais para mim e corria o risco de levar algum encontrão que me rebentava "a bolha" e lá ficava eu exposto a uma multidão de desconhecidos, com os quais, provavelmente, nada tinha em comum, a não ser um blog simples e despretensioso.
Mais tarde começaram a aparecer as redes sociais, com o Facebook à cabeça e "abri-me" um pouco mais. Abri-me demais a demasiada gente que, à mais pequena contrariedade, se veio a revelar de uma hostilidade e injustiça indescritível. Dei-me mal e voltei a fechar-me na minha bolha. Encerrei aquela conta onde outrora tinha dado a conhecer a desconhecidos, uma parte importante da vida familiar. Não que tenha algo a esconder, pois a minha vida é um livro aberto, mas porque acho que não tenho o direito de expor a família a estranhos e até a alguns menos estranhos. O meu blog e as redes sociais que frequento, sou eu. Refiro-me frequentemente "à minha Maria", que foi a forma carinhosa como alguém desses tempos de abertura se referiu "à minha Maria". Falo em abstrato sobre coisas banais da vida, mas não me sinto com vontade de voltar a expor a família num meio que, por vezes, se torna tão cruel e injusto, que até dói.
Mas não era bem disto que eu vinha falar. O que vinha aqui dizer, é que, não sendo muito dado a carneiradas, sou absolutamente avesso a determinadas correntes que se geram nas redes sociais e raramente partilho as merdas que me vão aparecendo. Não acredito nos apelos às santinhas para acabar com o coronavírus, sobretudo vindos, muitas vezes, de pessoas que têm uma certa aversão a água e sabão e que nas lojas gostam de andar às cavalitas de quem está a ser atendido. Não partilho nada, porque não acredito que a maior parte daquelas pessoas tenha a menor noção do que estão a partilhar. Já vi comunistas a partilhar e a aplaudir o Ventura, quando no dia anterior se tinham inflamado todas na defesa da comunidade cigana. Assim como não acredito nos que, desde ontem, se têm dedicado a publicar tarjas negras como uma manifestação de anti-racismo. Nós temos que ser anti-racistas todos os dias, mas é nas atitudes. Não precisamos de andar com um chocalho a apregoar civismo, quando no dia-a-dia o nosso comportamento desmente todas as partilhas que fazemos nas redes sociais.
E para terminar, que o texto vai longo e a esta hora o pessoal já foi todo ver a novela, deixo-vos com uma imagem da minha publicação de ontem, no Facebook.


5 comentários:

  1. Nem me diga nada, hoje já fui chamada de ignorante porque num post onde onde meteram o movimento #blacklivesmatter eu pus #alllivesmatter, simplesmente porque sou a favor de um único movimento... o retorno da humanidade!

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    1. É tão utópico um como o outro.
      Eu continuo a acreditar é que fomos aqui deixados por extraterrestres (numa experiência de engenharia genética) e que eles só ainda não regressaram para pôr um rumo nisto, porque são de longe e a viagem demora séculos. Mas andamos há tantos anos a fazer m€rd@, que eles já vêm a caminho. Espero que cheguem antes de eu morrer e tragam o elixir da longa vida para pessoas que merecem (como eu lol) e me deixem viver até aos 500 anos.

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  2. É uma forma que as pessoas arranjam de se sentirem melhor, nem que seja por um dia.

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  3. Há atitudes que têm peso pelo seu simbolismo; por serem mais uma forma de gritarmos por mudança. Ontem, fui parte desse movimento, mas a minha luta não termina ali. É diária e é por esse valor que me rege sempre. Mas isso não invalida que possa ser mais uma voz no meio de tantas

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    1. Ahahah, tás sempre a levar por tabela. As coisas não te são destinadas (nem podiam ser, pois não dei por teres colaborado no evento) mas é como aquelas pessoas que, num dia de chuva, estão na paragem do autocarro e passa um carro "a abrir" e levam com a água enlameada.
      Começo a sentir-me na obrigação de te oferecer um par de galochas. 🤣🤣🤣

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