quinta-feira, 2 de maio de 2019

Parar para respirar

Estou a tentar respirar fundo e devagar. Vai para dois dias e duas noites que não consigo dominar a ansiedade e pensar racionalmente e assim o coração não vai aguentar.
Ontem fomos comer um robalo a Setúbal e aproveitar o bom tempo para descontrair, mas esta merda não me sai da cabeça.
Esta lesão na coluna é antiga e fruto da estupidez da adolescência. No trabalho estávamos sempre ansiosos de demonstrar força e vitalidade e eu devo ter deslocado uma vértebra ao levantar um objeto mais pesado do que eu. Por causa desse incidente levei uma valente "piçada" do mestre, mas o mal já estava feito. Daí em diante, apesar de ser novo, fiquei a sofrer de dores lombares e, em períodos críticos, a dor ciática prendia-me um pouco uma perna.
Quando comecei a fazer exames periódicos, por causa do problema oncológico, a lesão começou a ser reportada nos relatórios das TACs e um dia (há cerca de dez anos), por precaução mandaram-me fazer uma ressonância pois, segundo penso saber, alguns cancros do pulmão "gostam" de se expandir para os ossos. Desse exame concluíram que não havia lesões malignas e até agora, embora a lesão seja reportada nos relatórios, ninguém mais falou no assunto.
Por isso, o que eu quero acreditar é que esta médica, que ficou com o meu processo após a reforma do médico que me acompanhava desde 2005, esteja a tentar perceber a gravidade da lesão. Mas eu tenho andado com muitas dores nos ossos, como tinha antes de descobrir o tumor e se já andava preocupado (eu fico preocupado e ando sempre atento a qualquer sintoma anormal...), mais preocupado fiquei com este ressuscitar de uma merda que estava quase esquecida. Confesso que, desde que comecei a fazer caminhadas, deixei de sentir a característica prisão da perna, devido à compressão do nervo ciático. Ultimamente até me queixo mais da zona cervical, com adormecimento e dores nos braços. Mas a zona lombar não me tem dado problemas de maior. Mas estou assustado. Porquê, de repente, fazer mais análises (fiz há uma semana...), fazer uma cintigrafia óssea e, provavelmente, uma biopsia (a tal agulha que me querem espetar na coluna)?
O cancro não é só uma doença: é um martírio, uma ameaça constante, qual espada de Dâmocles, presa por um fio sobre a nossa cabeça. Não dá descanso, não dá tréguas... não há um dia, uma hora, um minuto, que não se atravesse nos nossos melhores pensamentos para estragar qualquer tentativa de sermos felizes.
Neste momento sinto-me encurralado, sem ter para onde fugir. Se tivesse um botão, desligava-me.

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